As macrotendêcias dos Nômades Digitais e dos Viajantes estão entre as principais tendências para 2015 e 2016, evocando referências de estilos como o Gypsy. Entenda porquê e as raízes desse movimento
Um dos conceitos da Moda é o estudo do novo na cultura. Só que o novo não sai do nada, geralmente olhamos para o passado e fazemos uma releitura de certo movimento, ou elemento, evocando seu espírito em um novo contexto, com novas formas, novos materiais, nova tecnologia. Mas nunca, volta igual!
Assim a moda é marcada por um ir e vir de movimentos e tendências, registrados pela História da Moda e da Arte que ajudam na composição do futuro, junto com as descobertas científicas e tecnológicas.
Nômades Digitais e Viajantes
Para os próximos anos, entre as principais macro-tendências, estão os Nômades Digitais e os Viajantes e por sua influência, entre outros motivos, estilos como o Étnico, Folk, Boho, Tribal e o Gypsy vem sendo resgatados.
Estas tendências vêm sendo trabalhadas na moda a algum tempo, como podemos ver em matérias e desfiles de 2012 e 2013. Entretanto, os movimentos são como ondas que vão se manifestando aos poucos e demoram, às vezes alguns anos, para se propagarem inteiramente. Entenda agora a relação entre o Neonomadismo e a volta do Estilo Cigano:
De onde vem o movimento dos Nômades Digitais
Nomandismo Digital é um comportamento humano emergente que surgiu como uma nova maneira de viver, de pensar, de agir, com base na evolução e no desenvolvimento dos meios tecnológicos, produzindo um mundo caracterizado pela dissolução do conceito de fronteira e interconectividade global.
Traduzindo, cada vez mais, um número muito grande de pessoas, pode trabalhar de onde quiser desde que possuam ferramentas como um computador e internet. Geralmente profissionais associados a informação, como fotógrafos, tradutores de livros, blogueiros etc.
Os nômades digitais são aqueles que tem profissões em que podem trabalhar de qualquer lugar do mundo, desde que tenham ferramentas, como um computador e internet. Este estilo de vida está só começando e vai mudar toda nossa concepção de trabalho.
Surge como um novo movimento nômade, resultante de uma série de inovações científicas e tecnológicas que passou a convergir, em um novo paradigma baseado nas tecnologias da informação e da comunicação, resultando em uma sociedade denominada de Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento (knowledge society) que é caracterizada pela informação, como meio de criação de conhecimento, desempenhando um papel fundamental na produção de riqueza e na contribuição para o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos.
Veja o manifesto do Nomandismo Digital produzido pelo site Hypeness mostrando como essa transição está sendo feita, com dados, ideias e dicas para quem pretende adotar esse estilo. Vale a pena conferir!
Agora vamos voltar as origens do termo. O nomadismo é a prática dos povos nômades ou seja, que não têm uma habitação fixa, que vivem permanentemente mudando de lugar. Usualmente são os povos do tipo caçadores-coletores ou pastores, mudando-se a fim de buscar novas pastagens para o gado, quando se esgota aquela em que estavam.
Os nômades não se dedicam à agricultura e frequentemente ignoram fronteiras nacionais na sua busca por melhores pastagens. A Bíblia é a história de um povo nômade, os Hebreus.
No entanto, para Piere Lévy, somos não exatamente Nômades, pois os nômades não tinham nem terras, nem cidades. Segundo ele , somos Móveis: passando de uma cidade à outra, de um bairro a outro da megalópole mundial. Vivemos em casas que são como navios em pleno mar, conectados com todas as redes da grande aldeia global.
Para entender melhor
A história da humanidade passa pelos seguintes períodos: o das mãos, o das ferramentas, o das máquinas e o dos aparelhos eletrônicos.
Na Primeira Revolução Industrial, o homem substitui a mão pela ferramenta, neste período ele era nômade.
A Segunda Revolução Industrial, em que substituiu a ferramenta pela máquina, ocorreu a pouco mais de duzentos. Quando se trata de ferramenta, o homem é a constante e a ferramenta, a variável: o alfaiate senta-se no meio da oficina e, quando quebra uma agulha, a substitui por outra. No caso da máquina, é ela a constante e o homem a variável: a máquina encontra-se lá, no meio da oficina, e se, um homem envelhece ou fica doente, o proprietário da máquina o substitui por outro.
O homem pré-histórico, não fixava lugares para a fabricação, produzia em qualquer lugar. Com a invenção das máquinas essa arquitetura teve que mudar, pois, já que a máquina deve estar situada no meio, dura mais e tem maior valor que o homem, fazem surgir agrupamentos significativos de máquinas em grandes centros urbanos. Em rede, conectadas entre si, se unem formando parques industriais e cidades como São Paulo.
Já com a Terceira Revolução Industrial, aquela que implica a substituição de máquinas por aparelhos eletrônicos, muda-se completamente este paradigma.
A primeira vista, quando pensamos sobre a revolução dos aparelhos eletrônicos, é como se estivéssemos retornando à fase de fabricação anterior às ferramentas. Exatamente como o homem primitivo, que sem mediação alguma apreendia a natureza em suas mãos e, graças a elas, podia fabricar algo, em qualquer hora e lugar.
Esse será nosso futuro, apoiado por tecnologias como a impressora 3D que começa a se formar diante de nossos olhos. É como se estivéssemos na pré-história desse novo período que vem surgindo. Por isso tudo é tribal, a música é primitiva e voltamos aos tempos das imagens já que o nosso vocabulários ainda não consegue dar nomes a todos estes fenômenos que vem se instalando velozmente, então buscamos no passado as referências para nominá-lo.
Entenda melhor este movimento aqui e também na matéria: Sociedade da Informação e a relação entre o homem e suas fábricas em uma Reflexão de Vilém Flusser, no livro O Mundo Codificado.
Veja mais sobre macrotendências e as mudanças em nossa sociedade aqui:
Entenda as novas formas da Riqueza – A nova Revolução Industrial e a Era do Conhecimento
A busca de significado em nossa vida e a cura psíquica numa sociedade de transição
Viajantes
Na Moda, todos estes fenômenos que vem ocorrendo no novo milênio, em consequência da globalização e do fácil acesso ao transporte (principalmente por conta do crescimento das companhias aéreas e preços mais acessíveis das passagens), foi denominado de Viajantes: indivíduos com residência fixa e emprego, que devido ao excesso de informação e/ou viagens constantes, acabam por absorver elementos de diversas culturas no seu cotidiano.
A mistura de estilos étnicos é a característica mais marcante deste novo Viajante, estampas indianas, chapéu de Cowboy, calça saruel, turbantes, lenços, peles, acessórios, bordados, sobreposições e muitas cores. O resultado é um visual de andarilho, onde o que mais chama atenção é a história contada por trás de cada peça escolhida.
Há também um fortalecimento de temas como Étnico, Folk, Boho, Tribal e Boêmio, em que tudo vem junto e misturado. Esta tendência pode refletir duas linhas de pensamento:
Inserção de elementos de outras culturas em seu estilo de vida;
Como também a simplicidade de reflexões do tipo: em um mundo globalizado, quem não sabe quem é, também não sabe para onde vai.
O fato é que tudo que envolve etnia estará muito forte para as próximas estações.
Desfiles do Fall/ Winter 2015 que serão referência para nosso Inverno 2016. Dsquared² nas duas primeiras imagens e Dries Van Noten na terceira. A mistura de estilos étnicos é a característica mais marcante deste novo Viajante, estampas indianas, chapéu de Cowboy, calça saruel, turbantes, lenços, peles, acessórios, bordados, sobreposições e muitas cores. O resultado é um visual de andarilho, onde o que mais chama atenção é a história contada por trás de cada peça escolhida.
E onde entra a tendência do Estilo Gypsy (Cigano)?
Você deve estar se perguntando…
Com o advento das novas tecnologias e novas formas de trabalho, surgiu, ou melhor está ressurgindo uma espécie de novo viajante, expresso na tendência do Neonomandismo e você é um estilista e quer vestir essa nova tribo, onde vai buscar inspiração? Qual a primeira pergunta que irá fazer? Que tal começar por:
– Quem eram os povos nômades?
– Existem ainda hoje povos nômades?
– Quem são os viajantes contemporâneos?
Nestas respostas, é que você vai buscar inspiração!
Os povos nômades na atualidade se encontram espalhados em todos os continentes. Vamos encontrá-los nos desertos da África como os tuaregue, no Sahara, também na Etiópia, no Sudão, os beduínos do deserto do Negev em Israel. Na Finlândia ou na Mongólia os nômades vão sobrevivendo, apesar dos limites que a natureza os coloca e o governo destes países. E finalmente, o mais conhecido deles, os ciganos, que circulam tanto na Ásia, Europa como nas Américas.
Todos esses exemplos podem servir de inspiração, mas geralmente aquele com maior riqueza estética, vai ser escolhido, caso dos ciganos novamente.
É assim que determinado movimento, como o estilo Gypsy acaba retornando, pois vira ponto de partida na construção da identidade de um novo movimento ou uma nova tribo!
Junta-se a isso as tecnologias e novas formas de produção e conhecimento e pronto, vemos o novo se formando!
Desfile de Jean Paul Gaultier Spring 2015 que traz referências do Gypsy misturadas, ao jeans, um dos tecidos mais usados em nosso época, e como não poderia deixar de ser – os aparelhos eletrônicos, que financiam toda essa mudança de paradigma
Blusa Estilo Gypsy – Como era e como volta
Aqui um breve histórico em fotos da Blusas do estilo Gypsy (Ciganas): primeiro início do século quando era usada somente pelos ciganos. Nos anos 70 quando a tendência foi revisitada pelo movimento hippie. Depois nos anos 90, no figurino da personagem Babalu da novela Quatro por Quatro da Rede Globo, que virou febre no Brasil. E finalmente resgatada por Emilio Pucci, em sua coleção Spring Sumer 2012-13 e nos looks das blogueiras e na passarela de Jean Paul Gaultier Spring 2015 que será referência para o Brasil no verão 2016. Na foto a modelo tira uma selfie fazendo biquinho, deixando o momento ainda mais atual
Entendendo o estilo Gypsy
O blog Acorda, bonita preparou um especial bem completo sobre o retorno dessa tendência. A grosso modo, na língua inglesa, Gypsy significa Cigano – membro tradicional de grupos itinerantes os quais se originaram no norte da Índia (nota: há controvérsias) e agora vive principalmente no sul e sudoeste da Ásia, Europa e América do Norte.
Pela sua natureza nômade, é difícil de estabelecer as origens e localizações geográficas exatas destes grupos itinerantes alcunhados de Gypsies, ciganos, travellers, viajantes, peregrinos, entre outros. Para simplificar o debate, podemos dizer que há dois “macro-grupos” de Gypsies: Os ciganos “ao pé da letra” e os peregrinos irlandeses.
Ambos possuem estilo de vida nômade, mas são oriundos de grupos étnicos distintos. Existe um grande debate acerca de suas histórias, historiadores alegam que o povo cigano possui raízes na Índia, tenho migrado para a Europa no século 13. Já os viajantes irlandeses fazem jus à sua alcunha, ou seja, são primordialmente de origem irlandesa.
O estilo caracteriza-se principalmente por indumentárias coloridas com joias opulentas, saias fluídas e cachecóis vibrantes que possuem retratação milenar. O brinco de argola e acessórios com balangandãs que lembram moedas também são ícones deste do estilo cigano.
O uso de camadas, bolsas transpassadas e rasteirinhas de tiras também compões o estilo Gypsy.
Peças chaves: Lenços coloridos, tecidos com aplicação de pedrarias ou bordados e muitos acessórios de diferentes materiais.
Fonte:fashionbubbles